7.1.16

E quando levamos os filhos ao hospital sem motivo?

Tinha eu uns 11 anos quando soube o que era um hipocondríaco, pelas palavras de Júlio Dinis n'A Morgadinha dos Canaviais. Muitos anos mais tarde, não tive dúvidas em identificar-me com essa condição. Passei a minha gravidez a ver vídeos sobre partos (normais e cesarianas), doenças que surgem na gravidez, problemas, tudo o que pudesse surgir. Preferi ler sobre tudo isso do que ficar a pensar nesses assuntos sem informação. Tento, sempre que possível, ler artigos científicos e não me limitar ao Google, já que pode ser pior a emenda que o soneto.
Sempre tive algum receio que a minha filhota fosse vítima deste meu desvio, que eu ficasse obcecada com o seu bem-estar e saúde e que isso a prejudicasse mais do que ajudasse. Para minha surpresa, até hoje tenho sido bastante relaxada. Mantenho-me muito atenta a tudo, conheço bem a minha filha e facilmente detecto quando algo não está bem. E deixo os médicos tratarem dela, como tem de ser.
Nestes 20 meses de Maria Victória, pude pôr-me à prova algumas vezes e portei-me exemplarmente: constipação com 1 mês, eritema súbito, gatroenterite (com estadia no hospital) e herpangina e algumas situações mais corriqueiras menores. Valeu-me quase sempre a Saúde 24 para me ajudarem a avaliar cada situação e evitar idas desnecessárias à fábrica de bichezas perigosas, também conhecida por hospital.
Por outro lado, fui capaz de perder toda a compostura com um corte superficial no pé da princesa no último verão. Ela tinha passado a tarde nos avós e, quando fui buscá-la, começou a chorar e a apontar para o pé. Os avós disseram que ela tinha partido um parto, mas estava calçada quando isso aconteceu. Procuraram se havia algum vidro no pé, mas não viram nada. Tirei a sandália e vi na planta do pé, mesmo numa ruguinha, aquilo que me parecia um corte, com sangue. Ela percebeu a minha aflição e continuou a choramingar com mimo. Entrei em pânico e corri com ela para o hospital. Não lavei o pé, não avaliei a situação, corri para o hospital pois só achava que tinha algum vidro alojado no corte. Ela parou de chorar assim que entrou no carro. Quando lá chegámos, não era nada e o corte só estava na pele. Não havia vidro algum. Levei com os risos condescendentes das enfermeiras e não me livrei de um raspanete, com toda a razão. 
Acho que todos os pais têm tanto medo que as crias fiquem em perigo que fazem estes disparates sem sentido. 
Conheço casos tão engraçados quanto o meu. Uma amiga minha levou o filhote à urgência porque ele estava a tossir. Outra porque o bebé tinha o nariz entupido. Até podemos criticar, mas não conseguem entender a aflição? Acredito que, com a experiência, todos aprendemos a lidar com estas situações e a avaliar a gravidade das mesmas. E continuo a crer que a intuição de uma mãe vale por muitos exames. 

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