4.5.15

A auto-estima

Com a maternidade vem, não raras vezes, a falta de auto-estima. O corpo transforma-se e as rotinas e as prioridades também. Aquela barriga enorme que antes se exibiu com orgulho dá lugar a uma pança vazia e flácida. A gordura que o corpo foi acumulando para alimentar bebé e mãe teima em não sair. As mamas agora vertem leite e lá se foi o imaginário sensual a que as associamos. A hora do banho é quando o bebé deixa. Muitas vezes, tem de se optar entre o banho, uma refeição a correr e uma sesta. Tudo isto (e a lista podia continuar) pode desencadear na mulher um decréscimo vertiginoso na sua auto-estima. Aconteceu comigo. Durante este ano que passou em que vivi a experiência mais tudo que alguma vez viverei, consegui descer até bem lá abaixo. Eu praticamente deixei de existir. É a culpa só foi minha. Prioridade nº 1 - a minha filha. Vivo em função dos seus horários e das suas necessidades. Não quero perder um minuto que seja dela. Quando está acordada estou com ela. Quando está a dormir fico a olhar para ela. Acabaram-se as depilações a laser, as massagens, as máscaras, o verniz gel, os livros, as revistas, as séries, a roupa... Como, durmo e respiro bebé. Prioridade nº 2 - o trabalho. 1 mês e meio depois do meu amor nascer, muito contrariada, regressei ao trabalho. Como o faço a partir de casa, pensei que fosse mais fácil. É um engano. Foi pior. E vieram ainda mais responsabilidades. Até aos 6 meses fiquei dia e noite com ela. Na alcofa ao meu lado, quando dormia. No meu colo quando estava acordada. Foram horas e horas ao computador: teclado numa mão, Maria Victória na outra. Inúmeras chamadas de conferência em que lhe ia dando um leitinho. Felizmente, ela foi sempre muito sossegada e os meus interlocutores até gostavam que ela os saudasse. E, pronto, acabaram-se as prioridades. Não havia mais nada para além disto. O marido, tal como eu própria, foi chutado para canto. Não há tempo para mais ninguém. Não saio de casa, não sei o que se passa no mundo, não quero saber. Pelo meio, apareceu uma ligeira depressão (provocada por agentes externos) que, aproveitando esta fragilidade, se instalou e agravou tudo. Ansiedade, pânico, insegurança, medo, tristeza. Já não era mais eu. A entrada em 2015 fez-me rever prioridades. Para alguma coisa tem que servir a chegada de um novo ano. Como é óbvio, mudanças deste género não se operam do dia 31 para o dia 1. Mas tomei a decisão de ir mudando. Ainda não consigo colocar nada nem ninguém acima da minha querida filhinha. Não sei sequer se quero. Mas tem que haver mais alguma coisa para além dela e do trabalho. Quero que ela tenha orgulho na mãe, a todos os níveis. Sei que devia estar a fazer isto por mim e não por ela, mas vou fazê-lo pelas duas. Vou ter de separar algum tempo para investir em mim. Pode ser para me embelezar, para me cultivar, para relaxar, para me fortalecer ou para não fazer nada. Acho que só assim serei uma melhor mãe para a minha filha e uma pessoa melhor para mim.

1 comentário:

  1. Pensa assim, para poderes ser a melhor mãe para a tua filha, também tens de te cuidar. Enquanto mãe que também trabalha a partir de casa, compreendo do que falas perfeitamente mas a verdade é que também sei por experiência própria que sentirmo-nos bem na nossa pele e com a nossa vida é meio caminho andado para transmitirmos calma e felicidade aos nossos filhos. E já dizem os entendidos - pais felizes, enquanto indivíduos, enquanto casal, filhos felizes.

    xoxo
    cindy

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